Blog mantido pelo professor Fábio Andrade para a disciplina de Introdução aos Estudos Literários do curso de Letras da UFRPE

terça-feira, 30 de março de 2010

Pequenos Poemas em Prosa (Charles Baudelaire)


Charles Baudelaire é considerado o pai da noção de modernidade em Literatura. Foi um dos maiores poetas da literatura francesa, tendo sido grande influência, na segunda metade do século XIX, para poetas ocidentais e presença marcante na poesia brasileira de então. Seu livro "As Flores do Mal" (publicado em 1857), apresenta os traços característicos e revolucionários de sua poética subversiva, questionadora e iluminada. Pequenos Poemas em Prosa, na verdade obra inconclusa, tendo recebido esse título de seus editores, cobrem os últimos dez anos de vida do poeta e foram publicados em revistas literárias e periódicos da época, justamente a partir de 1857. Os Pequenos Poemas... representam uma abolição das fronteiras que dividem a poesia da prosa, anunciando uma sensibilidade literária que estava muito além da época em que viveu o próprio Baudelaire.

13 comentários:

  1. Um homem perambula pela cidade ... Colhendo visões, sensações, emoções... matéria prima para sua poesia. Baudelaire nos apresenta uma visão do mundo onde o belo e o grotesco coexistem ...e pasmem ! O que temos por feio é na verdade, lindo e a vida vista com óculos-cor-de-rosa não é tão bonita assim... é alienada! Aquela visão de poeta que a maioria das pessoas tem ( e que insiste em surgir cada vez que a palavra é mencionada , teimosamente!) se esvanece pouco a pouco a medida que se lê Baudelaire.

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  2. Eu acredito que esse livro de Baudelaire seja difícil de classificar, pois ele parece conter histórias de romances, sonhos, relatos pessoais, críticas à sociedade, tudo em um livro só. E um dos poemas que mais me chamou a atenção foi As tentações ou Eros, Pluto e a Glória, que para mim pareceu uma mistura de conto, sonho e no fim uma crítica da real postura humana. No início e no meio do poema ele contruiu de uma forma que nos encanta com a honrosa postura adotada pelo personagem e no fim ele desconstruiu mostrando que era um sonho e se fosse a vida real o personagem não agiria assim, ao contrário, desejaria todas as tentações apresentadas a ele.

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  3. Devaneios. Os poemas em prosa são oscilações e descrições dos devaneios do autor. Ao mesmo tempo há uma analogia da vida de forma abstrata com os conflitos da sociedade, mais especificamente na atmosfera parisiense, cidade onde Baudelaire constrói imagens e descrições, embora ele esteja desgarrado de todos os vínculos que o liga com o exterior palpável e comum a um indivíduo, tornando-se um estrangeiro do seu próprio “eu”. Assim como sua concepção de moderno, ele remete aos temas de uma maneira singular, capaz de provocar no leitor uma sensação conflitante que o leva ao encontro das suas próprias indagações. O conteúdo em si é um mergulho na alma e na simplicidade, para se compreender as vertentes da existência irremediável e o culto as efemeridades paradigmáticas.

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  4. As minhas considerações em relação ao “ pequenos poemas em prosa” é que Baudelaire trabalha os problemas universais humanos a solidão, tristeza, o amor, angustia, exploração de forma agressiva que surpreende o leitor , é muito impactante e realista, mesmo assim é poético, vai no âmago e pode causar um certo estranhamento , asco e porque não humor. É muito bom... O novo é muito presente, de fato, ele foi muito engenhoso.

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  5. O desespero da velha

    “ A velhinha enrugadinha se sentiu toda faceira ao ver a linda criança a quem todos faziam festa, a quem todo mundo queria agradar ; aquele lindo ser tão frágil, como ela, a velhinha e, também como ela,sem dentes e sem cabelo.
    E aproximou-se, querendo fazer gracinhas e gracejos simpáticos.
    Mas a criancinha apavorada se debatia sob as caricias da boa mulher decrépita, e enchia a casa com seus ganidos.
    Então a boa velha recolheu-se a sua solidão eterna, e chorando em um canto pensando: ‘a para nós infelizes velhas fêmeas, passou a idade de agradar, mesmo aos inocentes; horrorizamos as criancinhas que queremos amar´ ”

    O que achei de interessante nesse poema é que ele parece mostrar as “duas pontas da vida”, um espelho do passado e do futuro, alegria e a tristeza duas faces da mesma moeda. Pois tanto a velha como a criança tem pontos em comum, parecidos, afinal de conta são todos humanos, frágeis, sem dente, sem cabelo, o que atrai ou separa o afeto, a alegria,da beleza,da festa, é o tempo, tempo esse que parece transformar e distorcer tudo, até o amor que termina por assustar- velha triste e só – seria o fim de todos? Efêmera vida como uma uva passa...

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  6. Obs: postei dois comentários porque fiquei um pouco na dúvida sobre o que postar se era algo sobre os versos ( como geralmente faço no diário) ou se era as considerações sobre o livro como todo , enfim, esta ai os dois.

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  7. Também fiquei na dúvida se postava algo sobre cada texto ( como estou fazendo no diário ) ou se postava minhas impressões sobre o livro. Resolvi fazer uma mistura com as partes que considero mais importantes.
    Pequenas Impressões.

    Antes de iniciar a leitura fiz uma breve investigação na vida do escritor e encontrei alguns pontos interessantes. O fato de que também era um influente crítico me deixou ainda mais curioso, porque é difícil hoje encontrar criticos que escrevem. No geral, eles preferem a comodidade de analisar obras de terceiros e não se arriscam na produção. Isso não acontece com o Charles, que tinha forte capacidade de realizar cortes nítidos na sua obra, o que é raro entre os poetas.

    Pequenos Poemas

    Não esperava algo tão bom de ler, uma verdadeira viagem com direito a boas comparações e que desperta muitas questões bem atuais. É como viajar por universos diferentes que não estão perdidos no tempo.

    Entre meus preferidos.

    1- O desespero da Velha

    Adorei a forma como o tema foi tratado. De forma delicada e bem real, ele reflete a realidade de muitas mulheres e os problemas com o envelhecimento. Infinitamente bonito e de uma simplicidade que me fez lembrar dos bons tempos com minha Avó e as dificuldades vindas com o passar dos anos.

    2 - O louco e a Vênus

    Esse me intrigou muito pelo fato de que mesmo sendo capaz de falar tão bem sobre a beleza e a mágica do universo, Baudelaire parte para a apresentação de um ser solitário e que mesmo sendo capaz de reconhecer sua inferioridade e privações, não consegue entender o motivo pelo qual é capaz de entender e sentir a beleza. E o melhor é o olhar da Vênus, "de mármore" . Fantástico.

    3- Convite à viagem

    Outro que me fez pensar muito e admirar a forma como essa terra fantástica é apresentada. Me senti viajando e imaginando quanta coisa podia ser diferente. Cada paisagem é especial.


    Não sei se era isso, mas essas foram as minhas impressões. Se for necessário analisar de forma mais técnica, posso deixar aqui as poucas coisas que consegui escrever. Na verdade a leitura é boa, esqueço as vezes de anotar bons momentos.

    Aqui segue uma frase que achei muito boa :

    "É tão difícil o entendimento, meu caro anjo, e tão incomunicável é o pensamento mesmo entre as pessoas que se amam.”

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  8. Nesse livro, Baudelaire parece até um andarilho que percorre a cidade e registra suas impressões do que vê.A obra possui trechos de forte caráter pessoal e, em certos poemas, uma carga pesada de ironia.Nota-se, entre outras coisas ,o sentimento de deslocamente que atinge o autor (bem evidente no poema "O Estrangeiro") e sua afeição por escrever sobre os desafortunados.As críticas à sociedade são mordazes como em "O engraçadinho" e "O cão e o frasco".
    Como esse é um trecho de um "diário" de leitura, vou ser parcial.O livro me agradou bastante, especialmente pelo formato híbrdo, esse misto entre poesia e prosa.
    Dois poemas eu gostei bastante: "Cada um com sua quimera", que mostra como nos oprimimos com nossos próprios desejos, ás vezes impossíveis, e como isso é uma condição humana.Além disso, os indiferentes também sofrem, como Baudelaire deixa claro ao final.
    O outro é " A mulher selvagem e a pequena amante".Todo homem que se preze devia andar com ele no bolso e recitar quando a mulher começasse a encher o saco ou falar em casamento.
    Obs.: desculpem a sinceridade, sofro de incontinência literária.

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  9. Ah, sempre vale a pena lembrar: "mussum"= Jorge
    Ps.: não é pseudônimo

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. "Qual de nós, em seus dias de ambição, não sonhou com o milagre de uma prosa poética, musical, sem ritmo e sem rima, bastante maleável e bastante rica de contrastes para se adaptar aos movimentos líricos da alma, às ondulações do devaneio, aos sobressaltos da consciência?"

    Baudelaire já fala de uma "quebra" com o tradicional, e fala também de como os poemas em sua obra são independentes.
    Um dos assuntos principais dos seus poemas são as diferenças e os sentimentos da pessoas. Conflitos também são bem presentes.

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  12. É notável o uso de extremos que explodem ao se encontrarem. Toda a fantasia dos delírios se confronta com a realidade e revela uma oposição e um grande conflito existente. A arte da veleidade é capaz de levar um ser ao seu ideal, enquanto a realidade propriamente dita, retrata a visão desesperadora da vida, em que os demônios tentam envolver os indivíduos de forma mascarada e benevolente. Encontra-se como exemplo de tais características, os textos "O QUARTO DUPLO", no título "CADA UM COM SUA QUIMERA" e em "O DESESPERO DA VELHINHA"

    Repostagem, com algumas correções.

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  13. Concordo com o que natália disse, ele realmente "quebra" com o habitual...

    "Qual de nós, em seus dias de ambição, não sonhou com o milagre de uma prosa poética, musical, sem ritmo e sem rima, bastante maleável e bastante rica de contrastes para se adaptar aos movimentos líricos da alma, às ondulações do devaneio, aos sobressaltos da consciência?"

    Ele coloca em questão logo no começo do livro que muitas vezes um poeta se preocupa tanto com a parte estética de seu poema que esquece de por seus sentimentos nele. Baudeleire é literalmente um autor de vanguarda, pois como já foi dito neste 'post' estava muito além de sua época.

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