Os objetos
permanecem claros.
Habita a moldura
uma mulher de faces
cor-de-rosa.
Sobre a mesa de mármore
um cavaleiro de procelana
saúda as visitas.
A caneta ainda escreve
com a mesma tinta
de um azul levemente melancólico.
Na gaveta, dormindo
sob cartas e poemas,
o revólver aguarda.
Ruy Espinheira Filho
quinta-feira, 11 de março de 2010
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Eita, ninguém se arriscou ainda por aqui ;~~
ResponderExcluirNa minha interpretação, há uma explícita oposição entre o revólver e os outros objetos da composição. Pra começar, todos estão muito bem expostos e, neste aspecto, são responsáveis por alguma função (a mulher é responsável por habitar a moldura; o cavaleiro, por recepcionar os visitantes; a caneta, por escrever). Tudo isso, enquanto o revólver está escondido junto aos poemas.
Eu acho que está implícito o uso tanto dos poemas quanto do revólver, porque todos os outros objetos, ao serem expostos na claridão, têm alguma utilidade.
É claro que a figura do revólver deixa o texto mais pesado, mais misterioso.
Posso até estar errado, mas - no texto - acho que a arma chama mais atenção do que os poemas e do que as cartas, até pelo seu posicionamento e pela menção de uso.
Sei mais o que dizer não ;S kkkk
Edimar Gonçalves.
Concordo que existe "uma explícita oposição entre o revólver e os outros objetos da composição". É a mistura das sensações que constroem a identidade humana.
ResponderExcluirOs objetos que estão expostos são bem comuns na sociedade. Quadros, retratos, enfeites. Uma decoração um tanto impessoal.
Mas, a caneta tem um sentido diferente dos outros objetos, mesmo estando tão exposta quanto qualquer outro. Ela atua como um canal de transposição para a gaveta, onde aguarda o revólver sob as cartas e os poemas. Mas será que eles foram escritos com a melancolia da caneta? Se sim, seriam tão melancólicas quanto ou até mais...
Nesse caso, as cartas e poemas seriam o alicerce para o dia que o revólver também será útil, quebrando a impessoalidade do ambiente com a explosão dos sentimentos na forma de um disparo.
Danielly Cristina P. Vieira
Exatamente isso: ''quebrando a impessoalidade do ambiente com a explosão dos sentimentos na forma de um disparo.''
ResponderExcluirE, a partir daí, todos os objetos a que o eu-lírico se refere na composição da cena estariam em uso.
E concordo plenamente com a associação do uso da arma a leitura/produção dos textos dentro da gaveta.
;D
Edimar.
Exato. Todos teriam o seu lugar bem definido.
ResponderExcluirAlém de que, se a gente reparar, eu comentei da impessoalidade da "decoração" em contraste ao que esta escondido na gaveta. Bem como fazemos, muitas vezes, na vida. É o "quem vê cara não vê coração".
Deixamos à mostra as coisas mais banais, mais comuns, e os mais profundos desejos e sentimentos ficam escondidos, muitas vezes de nós mesmos.
(só pensei sobre isso hoje rs)
ps.: cade a galera??
Danielly.
Muito bom o que Danielly e Edimar falaram.
ResponderExcluirBom, o que pude notar de mais interessante foi que a medida que fui lendo o poema vi os versos escurecendo aos poucos, indo da total luminosidade do primeiro verso, passando pela melancolia (meia luz) até ir às trevas no último.
Na primeira parte do poema, (1ª, 2ª e 3ª estrofes), o autor nos joga imagens claras, um tanto quanto pálidas, nos objetos claros, na face cor-de-rosa, na porcelana e no mármore. Já segunda parte (4ª e 5ª estrofes) as imagens vão escurecendo aos poucos, partindo do azul (melancólico) da caneta até chegar ao revólver, que representaria a morte, a falta de luz.
Além disso última estrofe difere no ritmo em relação ao resto do poema, quebrando a leitura, num clara tentativa de causar suspense e apreensão ao leitor.
Pode ser que o que eu escreva não tenha nada haver com o poema, mas as impressões iniciais e pessoais que eu tive é que: interessantemente o autor descreve com detalhe cada objeto e mesmo que pareça comum, é mais pessoal que impessoal. A mulher da moldura tem faces cor de rosa, uma boa aparência mostrando que tudo vai bem, porém não deixa de ser uma moldura, estática. Quem sabe algo que tenha ficado no campo das recordações. O cavaleiro é antes de tudo um nobre, teoricamente forte contrastando com a fragilidade da porcelana. Saúda as visitas, um convite para entrar, mas até onde? É superficial, frio como o mármore. Os objetos vão dando pistas sobre o quadro emocional do “dono” . A caneta ainda escreve...o ainda é perfeito, da um suspense até quando ele durar, até quando durar a persistência, quais motivações do escrever, a caneta recebe toda a carga emocional, se mistura com a vida. E tinta imprime, provavelmente, as ultimas sensações “ com a mesma tinta de um azul levemente melancólico. O “ a mesma” também tem um peso muito grande, enfatiza a melancolia ela não fica tão levemente... Concordo perfeitamente com o "quem vê cara não vê coração" quem o compreenderá? A gaveta guarda, esconde, alegrias e dores, cartas e poemas...o revolver não deixa de ser o fim ou o começo...extremamente subjetivo...cada leitor por certo tem um guardado...um dia disparará?
ResponderExcluirBem, como está dito no texto, os objetos estão claros, ou seria: Evidentes? Há uma mulher de faces rosadas, fonte de inspiradas cartas e poemas, textos estes escritos por uma caneta que agora jaz triste, e onde estão alguns destes textos hoje? Habitam o mesmo movél do instrumento que faz lembrar a morte, morte lembrada ou desejada por aquele que outrora escrevera textos apaixonados para uma mulher de faces rosadas. Claro!
ResponderExcluirEu acho que o poema expressa toda a angústia que antecede um ato de suicídio.Há uma reação de surpresa e até terror ao se constatar o revólver que repousa na gaveta.Houve ,pelo meonos prá mim ,um sentimento de gradação e de que algo estava por vir na descrição dos objetos, um certo suspense.O final do poema é muito bom.
ResponderExcluirPs:Yes, fiz meu post!
Só prá elucidar: mussum = "jorge", esse é meu fake no orkut
ResponderExcluirEnquanto nos objetos citados: a mulher habita a moldura, o cavaleiro recebe os visitantes, e a caneta, ainda escreve, ou seja, todos eles ainda exercem uma função, mesmo sendo, de fato, objetos, os poemas e as cartas não. Estes, por sua vez, estão dentro da gaveta, sem uso, mesmo tendo sido, provavelmente, um refúgio para os sentimentos de outrem, agora eles estão em um mesmo local onde essa pessoa guardara um revólver. Será que eles foram apenas excluídos do conjunto dos objetos que ''permanecem claros'', ou foram mortos perante às lembranças e recordações de quem, um dia, os escreveu, ou mesmo, os recebeu?
ResponderExcluirAmanda Raíssa
Achei interessante que o poema dá uma quebra, até mesmo, um susto no final. Primeiro, o poeta apresenta aqueles objetos de modo tão impassível, como meros objetos decorativos. Entretanto, no último verso, o poeta quebra essa atmosfera tranqüila, “levemente melancólica”, apresentando um revolver entre cartas e poemas. Com isso, temos um impacto, ficamos inquietos, pois o que faz um revólver entre cartas e poemas diante do cenário pintado? Acho todas as interpretações acima muito legais, mas graças ao caráter plurissignificante da poesia, vejo esse poema como uma reflexão metalingüística. Pra mim, o poeta busca refletir sobre o que é poesia, mostrando que por trás da neutralidade das coisas, ou mais especificamente das palavras, reside uma inquietude,desvelada pelo “revólver” que aguarda. Espero que todos me entendam!!!
ResponderExcluirApesar da claridade
ResponderExcluirA mulher etsá, ainda que de faces rosadas,
Presa à moldura, estática
Apesar de saudar as visitas,
Sobre frio mármore
O cavaleiro é de porcelana, estático
A caneta ainda escreve
Apesar de sua cor azul melancolia
Um sentimento que de certa forma
Nos deixa estáticos
Mas, na gaveta, o revólver,
Ainda que dormindo, é quem
Aguarda...
Uma ação?
Um disparo?
Um começo?
Um fim?