Eis o poema Autopsicografia do Pessoa abaixo, para nos ajudar a pensar a noção da "ficcionalidade" própria do discurso literário, seja ele em verso ou em prosa. Comentem.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
27/11/1930
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
27/11/1930
A ficcionalidade literária, lembra-me aquele bendito pastel de queijo que compramos numa esquina qualquer, e quando o come-mos, sentimos o sabor do queijo, o aroma e sabemos que é de queijo, mas o queijo sumiu com o calor. O queijo está lá, não podemos ver, porém o sentimos. Acho que é isso que acontece com os textos, principalmente no que concerne a poesia, onde os escritores nos apresentam um bendito pastel de queijo, o comemos, sentimos o sabor do queijo, contudo não vemos o queijo, mas sabemos. Ele está lá.
ResponderExcluirVejo neste poema que Pessoa mostra ser o "fingimento"a melhor forma do poeta encontrar a razão.Construindo o mesmo a partir de duas dores distintas e unas,a que o poeta fingi que sente e a outra que acaba sentindo.Creio que foi nessa diretriz que Pessoa criou seus heteronomios,fingindo ser outros....
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